Centenas de trabalhadores se reuniram ontem em frente a fábrica
de peças para automóveis Aradco em Windsor, Ontario,
ocupada pelos trabalhadores desde a noite de terça-feira.
Os trabalhadores assumiram seu controle uma semana após
a seu fechamento ser declarado, mandando 90 trabalhadores para
rua sem compensação, remuneração de
férias e outros benefícios.
A ação continuou por vários dias, com
piquetes massivos dos trabalhadores para impedir que a Chrysler
- que representa 99% dos negócios da emprsa - remova auto-peças
e ferramentas desta fábrica e de uma planta irmã
chamada Aramco. A montadora localizada em Detroit cancelou seus
contratos depois de uma disputa sobre os pagamentos e, imediatamente,
obteve uma ordem judicial para obter as peças e os equipamentos
das pequenas fábricas.
Na terça-feira, mais de 100 trabalhadores das duas fábricas
automotivas e de outras ao redor desafiaram o mandado judicial
do tribunal e continuaram o bloqueio da fábrica, parando
um caminhão e os veículos de segurança da
Chrysler e os impedindo de entrar. Pocuo depois, antes das 18h
da terça-feira, um pequeno grupo de trabalhadores conseguiram
ocupar a fábrica - que estampa metal para lataria e chassis
de veículos Chrysler - e em seuida apareceram em seu telhado.
Eles fecharam as portas com solda e disseram que não iriam
sair até que recebessem US $ 1,7 milhões em indenização
demissional, que a fábrica lehs deve de acordo com as leis
de Ontário.
Uma dúzia de policiais, trazidos à cena pelo
sistema de alarme da fábrica, foram impedidos de entrar
pelo grande número de trabalhadores que se reuniu do lado
de fora para defender a ocupação.
A Chrysler tentou pôr fim ao bloqueio na segunda-feira,
oferecendo aos trabalhadores US$ 205.000 pelas verbas que a Aradco
deve a eles. No entanto, os trabalhadores rejeitaram a oferta
com uma margem de 64%, apesar de seu sindicato, o Canadian Auto
Workers, CAW, dizer que era o melhor acordo que poderiam oferecer.
Trabalhadores que ocuparam a fábrica disseram que não
tiveram outra opção senão a de tomar a empresa,
pois caso contrário poderiam ser enganados a respeito dos
benefícios a que tinham direito legal. Se a empresa declarou
falência, os bancos e outros credores teriam a garantia
sobre os ativos a propriedade.
A luta provocou um amplo apoio entre os trabalhadores por toda
Windsor, um duro golpe da cidade industrial de 220.000 pessoas,
separada de Detroit apenas por um rio. A reunião da quarta-feira
aproximou cerca de 500 trabalhadores, incluindo os trabalhadores
da planta de mini-van da Chrysler , que está ameaçada
de fechar.
Na semana passada, o presidente da Chrysler, Tom LaSorda ameaçou
fechar todas as fábricas da empresa no Canadá a
menos que os trabalhadores aceitem uma redução de
25% dos salários e dos benefícios e o governo do
Canadá e Ontário forneçam à empresa
um empréstimo de US$ 2 ou 3 bilhões. A Chrysler
emprega 9.400 pessoas em sua linha de montagem em Windsor e Brampton,
em Ontário. Dezenas de milhares de trabalhadores enfrentam
uma possível perda em seus empregos se a empresa mantém
a ameaça de acabar com as operações no Canadá.
Diante dessas ameaças o CAW se revelou completamente
impotente. Se opondo a qualquer luta unificada entre trabalhadores
americanos e canadenses e contra a destruição de
postos de trabalho em ambos os lados da fronteira, o CAW se comprometeu
a igualar ou superar quaisquer concessões do United Auto
Workers nos EUA, afim de manter a "vantagem competitiva"
para as montadoras fazerem negócios no Canadá. O
UAW já permitiu uma redução dos salários
e benefícios para o nível dos trabalhadores não
sindicalizados nas plantas da Toyota e outras empresas internacionais.
A ocupação pelos trabalhadores em Windsor tem
claramente abalado tanto a Chrysler quanto a burocracia do CAW,
que temem que o exemplo possa inspirar trabalhadores do setor
automotivo por todo Canadá para fazerem o mesmo. Os executivos
da Chrysler rapidamente denunciaram a ocupação,
se expressando hipocritamente em nome dos milhares de trabalhadores
que, afirmando que poderiam ser demitidos devido a uma escassez
de peças. "Com certeza, fecharão as plantas
da Chrysler em toda a América do Norte, pondo os seus irmãos
e irmãs na rua e acabando com outros fornecedores",
disse o porta-voz da empresa, Dave Elshoff.
Vários oportunistas, incluindo Ken Lewenza, presidente
do CAW, lutaram para promover a ilusão de que a legislação
de Ontário poderia ser pressionada a ficar do lado dos
trabalhadores.
Enquanto Lewenza fazia simulava um militantismo e uma combatividade
na frente da multidão - dizendo que os trabalhadores não
eram responsáveis pela crise econômica global e não
deveriam pagar por ela - na frente dos repórteres da mídia
o presidente do sindicato deixou claro que estava interessado
em acabar com a luta o mais rápido possível.
"Nós odiamos fazer isso. Parece que é ilegal
ou é ilegal sob o mandado judicial", disse ele aos
jornalistas. "A última coisa que queremos fazer é
fechar a Chrysler e fazer a empresa perder rendimentos. É
um mau momento, principalmente quando a sobrevivência da
Chrysler, GM e Ford estão em jogo."
Quando este repórter perguntou a Lewenza a razão
pela qual o sindicato foi orientado a não lutar para acabar
com as demissões em massa que afetam os trabalhadores em
toda a indústria automotiva, o presidente do sindicato
expressou sua fraqueza diante do capital, dizendo: "Nosso
sindicato não pode controlar a economia do mercado. É
aí onde você precisa de um governo para caminhar."
Se a empresa e a Chrysler foram obrigadas a recuar, foi devido
à luta determinada dos próprios trabalhadores, e
não ao CAW, que, apesar de sua grande adesão e enormes
recursos financeiros, não fez nada além de tentar
abafar a luta.
Em contradição com os funcionários do
CAW, trabalhadores manifestaram a sua determinação
em resistir e defender os seus empregos. Um dos trabalhadores
envolvidos na ocupação, Frank Kelly, disse a nossos
repórteres: "Eu deixei a fábrica, mas eu queria
me levantar junto com os meus irmãos, senão eles
receberão o mesmo pacote de desligamento que eu recebi
em julho.
"Ocupamos ao final da noite passada (terça-feira).
Foi uma ocupação feita independentemente do sindicato.
Nós não fizemos isto apenas por nós mesmos.
Fizemos para aqueles que estão desempregados, para toda
a gente que está se ferrando por causa das grandes empresas
em todas as cidades, em todo o Canadá e em todos os lugares".
Louis, um trabalhador com 16 anos de fábrica, disse:
"Nós fomos surpreendidos na segunda-feira passada
quando fomos chamados depois do jantar e nos falaram para não
virmos no dia seguinte. Nós perguntamos quantos estavam
sendo demitidos e nos disseram que era a empresa toda.
"No dia seguinte, nós viemos para a unidade e não
havia ninguém da empresa. Ouvimos que a Chrysler estava
chegando para pegar as suas ferramentas. Dissemos que era inacreditável
que eles iriam entrar e tirar o equipamento, a fim de enviá-lo
para outra unidade. Nós decidimos parar os caminhões.
Alguns caras aqui têm 28 anos de fábrica e eles nos
trataram como se nós não tivéssemos nenhum
direito. Fomos demitidos sem indenização ou férias
remuneradas. Nós nem sequer recebemos o nosso último
salário. Eles não nos deram nossos papéis
de desligamento da empresa, o que precisamos para obter benefícios
de desemprego.
"O que está acontecendo aqui é o que se
passa em todos lugares. Estamos ligados e somos parte da mesma
crise. Esta é uma mensagem dos trabalhadores e esse tipo
de coisa vai acontecer mais e mais. Temos de lutar para impedi-los
de tomarem os nossos empregos e agredirem nossas famílias.
"
Outro trabalhador envolvido na luta, Jagdish, referiu-se à
ocupação da fábrica Republic Windows and
doors em Chicago no último mês de dezembro. "Aqueles
trabalhadores estavam lutando pela mesma coisa. Duzentas pessoas
se ergueram e ganharam indenização demissional".
Um trabalhador com 32 anos em uma planta da área em
Windsor disse: "As empresas só querem sair. Eles não
se importam com os trabalhadores. Acabaram de ter seu dinheiro
e colocá-lo em bancos. Não é justo para os
trabalhadores, no Canadá, nos EUA ou em qualquer outro
lugar. Eles não têm nenhum respeito com a classe
trabalhadora, que tem famílias e que trabalham duro para
seguir em frente. Damos a eles concessões e eles só
pedem mais. "
O WSWS também falou com dois trabalhadores da Chrysler,
Tim Fuerth Ken MacDonald. Tim disse: "É uma luta comum
para os trabalhadores dos EUA e do Canadá. Windsor é
a próxima montadora a fechar. Estou serei um dos 1200 que
vão para rua em 24 de junho. Acho que eles vão para
uma guerra comercial e que não vai ajudar qualquer um de
nós. "
Ken acrescentou: "O sindicato automotivo nunca deveria
ter se dividido entre o UAW e CAW. Estamos competindo uns contra
os outros, lutando por empregos em uma corrida, enquanto as corporações
riem e vão aos bancos.
"Eles estão ameaçando a tomar nossos empregos
e mudar pra St. Louis, onde fecharam a planta. Se eles fecharem
a montadora não haverá mais nada em Windsor. Estes
trabalhadores que estão opcupados resistem. Talvez seja
a hora de alguma agitação civil, mesmo que isso
signifique ir para a prisão.